Mais do que disposição para viagens, escrever sobre “Turismo” exige estudo e especialização

Por Christh Lopes | 18/12/2014 14:15

O profissional de comunicação se atualizando constantemente até mesmo para ampliar seu currículo e se diferenciar dos demais no mercado de trabalho. Na editoria de “Turismo” não é diferente. Há conteúdos, cursos e especializações para quem deseja atuar na área. 

Para ajudar quem deseja falar sobre o assunto, o jornal The Guardian fez um chat ao vivo com doze especialistas para apresentar quais são os pontos mais importantes a se trabalhar por um aspirante no assunto. A Rede de Jornalistas Internacionais fez um apanhado do que foi dito no encontro. O passo inicial deve ser criar um blog pessoal, para demonstrar as suas habilidades.

Nele, pode-se escrever sobre os destinos preferidos, relatar sobre as viagens que fez, e ainda, opinar sobre o atendimento local e o que chama a sua atenção quando visita um determinado destino. Começar a colocar em prática o faro jornalístico é visto como essencial. Além disso, deve se portar como um jornalista, buscar fontes e apurar as informações encontradas.

Não se preocupe com o diploma, mas sim, com o desenvolvimento da escrita. Dessa forma, poderá se destacar diante dos demais. É importante não ter como foco um destino em específico e utilizar o Twitter como uma plataforma para estabelecer contatos e seguir personalidades que escrevem sobre o tema. Quem trabalha em turismo no jornalismo não pode ter medo de ser crítico, e para trabalhar de fato com o tema, poderá encontrar em editoras de guias de viagem a primeira oportunidade. 

CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO

Para quem mora em Araguaína, no interior de Tocantins, há uma novidade que pode surpreender. É o chamado “desafio jovem”, que está próximo de completar um ano de vida. Ele reúne seis diferentes disciplinas em um curso só. São elas: fotografia, jornalismo, português e redação, informática, línguas estrangeiras e turismo.

A inciativa do Instituto Carlos Chagas de Pós-Graduação (INCAR). Mas, para quem não tem a disponibilidade para se deslocar até lá, segue uma nova opção. Editora da revista digital Viagens e Rotas, Ana Elisa Teixeira recomenda que o profissional de imprensa ‘viva na prática’ a função. “Infelizmente os jornalistas de Turismo costumam se aprimorar em campo”, disse.

Há, também, workshops e palestras sobre a área, que, embora não tenham uma ampla divulgação, pode ser um ponto inicial para manter um contato próximo com a atividade. No Brasil, porém, não existe uma pós-graduação ou MBA que aprofunde a questão. “A maioria das pessoas que entram nesse mercado está pela qualidade do texto e pela aptidão por línguas. Aprende mesmo em eventos relacionado ao trade, em coletivas de imprensa e até mesmo durante press trips”.

Responsável pelo melhor blog profissional de Lisboa, conforme prêmio conquistado em 2014, o jornalista português Filipe Morato Gomes sugere alguns caminhos que podem ser trilhados. O primeiro é, justamente, visitar destinos e ter muitos quilômetros pelas estradas desse mundo. Vivenciar novas e diferentes culturas, se deparar com estilos variados de vida, e viajar, viajar muito! 


“Só assim, tendo essa experiência, não se impressionará facilmente com uma paisagem paradisíaca, com um hotel de luxo ou com um novo sabor, e só dessa forma conseguirá escrever textos isentos da emoção exagerada de quem vê algo pela primeira vez”. É Para ele, é necessário ter ‘alma de viajante’ e, claro, credibilidade. 

Filipe alerta, ainda, que é preciso resistir à tentação de falar bem de tudo ou ignorar propositadamente as coisas ‘menos boas’. Segundo ele, apesar do jornalista de viagens “vender sonhos” aos leitores, a verdade sempre deve ser retratada, ainda que isso signifique buscar outras fontes que não os operadores de agências, companhias aéreas ou das entidades oficias de turismo.

PREPARAÇÃO NECESSÁRIA

“O mais importante dessa área é saber diferenciar o trabalho da diversão. Até porque no turismo, muitas vezes o profissional vai cobrir viagens e ele tem que saber separar o profissional do pessoal”, diz Ana Elisa. A preparação tende a seguir um roteiro: estudo de mercado, participação em eventos e, o principal, encarar cada desafio sem nenhum preconceito. 

Se tiver os requisitos básicos, que são, teoricamente, domínio sobre inglês e espanhol, o interessado precisa se aprofundar no conhecimento cultural. Para tanto, a leitura de jornais do trade de turismo e reportagens a respeito irá estimular tal fomento. Agora, se, a partir do que foi apresentado, já tiver feito todas as etapas, faça a cobertura de temas que envolvem o setor, pois, na visão de Ana, ele ainda está engatinhando e tende a seguir em evolução pelos próximos anos no Brasil. 

O Ministério do Turismo, por exemplo, tem pouco mais de 10 anos. “Somente agora que muitas empresas e órgãos do Governo começaram a investir no turismo como uma oportunidade promissora para o crescimento brasileiro”, disse ela, que vê projeções positivas. “Com a Copa do Mundo que aconteceu este ano e as Olimpíadas em 2016, esse setor só prevê crescimento”. Já Gomes ressalta experiências que viveu, ao longo da carreira, para mostrar que a tarefa é difícil, mas não impossível.

Numa viagem organizada para jornalistas conheceu Maragogi, litoral de Alagoas, apresentada como a pérola maior do turismo alagoano. Na reportagem sobre a região, fez uma narrativa propositiva sobre o estado, porém, sobre o município, revela ter ficado chocado com as “piscinas naturais” que operadores exploravam e que estavam prestes a destruir o ecossistema local.

De acordo com Gomes, a situação vivenciada é o oposto do que um turismo sustentável deve ser. “Por que fiz isso? Porque os leitores merecem a verdade e o cronista de viagens não pode ficar mal com a sua consciência só porque alguém pagou a sua viagem”. E assim chegamos a mais um ponto importante: a humanização das matérias. O comunicador ressalta que é fundamental transmitir emoções, cheiros, sabores, falar de encontros e desencontros e não apenas descrever os lugares.

“É preciso escrever de forma criativa, procurar novos ângulos de abordagem a uma cidade, encontrar formas inovadoras de contar uma história. O jornalismo de viagens é muitas vezes tido como o parente pobre do jornalismo, e a única forma de se combater esse preconceito é fazer bem o trabalho. Sim, jornalismo de viagens é trabalho, não são férias! E o jornalista tem de encará-lo como tal!”. 

Já está no ar o especial "O turismo em pauta no Brasil". Para acessar e ler o conteúdo completo,clique aqui

 
 
 

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